'Fechei os olhos e torci para não ser alvejado. Atiravam em tudo'

RIO - Na Rua Paranhos, Morro do Alemão, fui surpreendido com os gritos de um filho desesperado, dizendo que a mãe tinha sido atingida. Não hesitei. Mesmo com o tiroteio, corri, atravessando a rua. Eu me joguei na casa e me deparei com a cena: uma senhora deitada no chão, as mãos na barriga. Eu, que me achava tão frio, acabei me emocionando e ligando para todos os números que via no celular. Felizmente, parecia de raspão. Fiquei mais calmo, mas tinha outro problema, voltar ao outro lado rua. Fechei os olhos e torci para não ser alvejado, já que os traficantes atiravam em tudo.

Logo depois, me deparei com outra cena mais terrível. Vi um militar gritando, ao meu lado. "Tomei um tiro!" Comecei a fotografar, e vendo o coronel Luigi fazendo um torniquete no garoto de 19 anos, tive certeza de que nossa realidade é essa, não só fotografar, mas participar em todos os sentidos.

MARCELO PIU é fotógrafo do GLOBO

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