Mesmo após uma operação com poucos confrontos, moradores do Complexo do Alemão ouvidos pela BBC Brasil permanecem em alerta e acham que é cedo para falar em um desfecho, acreditando que muitos traficantes estariam escondidos em casas da comunidade.
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"Eles ficam na casa das pessoas e fazem-nas de escudo humano, fazem pressão, dizem que matam se elas falarem para alguém. É terror psicológico. Os moradores comentam entre si, mas não com a polícia", diz um eletricista, que prefere não se identificar.
"Isso não vai acabar em um ou dois dias, vai durar bastante tempo. Agora os moradores têm que ter paciência nos próximos dias e abrir suas portas para a polícia fazer a varredura", diz ele, referindo-se ao lento processo necessário para vasculhar as 30 mil casas do complexo.
O farmacista Wellington Oliveira diz que a comunidade temia um confronto maior. "Todos estão assustados porque viram que o número de traficantes é muito grande. Agora o pessoal está se acostumando com a ideia da presença da polícia. Nunca vi tanto policial na área como agora. Estou satisfeito, é um começo", diz.
No entanto, ele considera precipitado o ato simbólico da polícia de hastear uma bandeira do Brasil no alto do teleférico da comunidade.
"O Complexo do Alemão é muito grande. Pensar que a comunidade pode ser tomada em cinco ou seis horas é muito precoce. Só uma pequena parte das armas foi apreendida, e poucos bandidos foram presos", diz.
Silvia Izquierdo/AP | ||
Policiais participam de ocupação do Complexo do Alemão, no Rio; veja outras imagens |
FAMÍLIA
O pedreiro Beto Santana, 40, disse que o clima já estava mais calmo na tarde de domingo, sem trocas de tiros. Mas o medo de que o confronto pudesse ser violento fez com que, no dia anterior, ele mandasse toda a sua família - a mulher, os três filhos e a neta - para dormir na casa de parentes em Del Castilho.
Na noite de domingo, Santana já ia trazê-los de volta. "Em princípio, está tudo calmo. Mas muitos de meus conhecidos deixaram as casas vazias e foram para a casa de parentes".
Ele conta que não deixou de ir trabalhar no sábado. "Medo dá, mas vai fazer o quê? Não tem como parar, tem que arrumar o pão de cada dia."
Neste domingo, quando o Alemão foi ocupado por forças de segurança, era grande a ansiedade para saber o que se passava no local. O número de seguidores do perfil no Twitter do jornal "Voz da Comunidade", feito por jovens locais, pulou de 180, ao meio-dia de sábado, para mais de 19 mil na noite de domingo.
O estudante Igor Santos, 15, acordou cedo para postar novidades por meio da internet. Foi surpreendido por um tiro que acertou a janela do seu quarto.
"Moro num prédio alto e a minha janela é bem de frente para a favela da Grota (reduto dos traficantes). Desci correndo com meu irmão de um ano e meio e passei o resto do dia na casa da minha avó", diz.
Ao longo do dia, ele e seus colegas anunciaram no "Voz da Comunidade" a circulação de helicópteros pela comunidade, trocas de tiros e a presença de carros de polícia. Igor acha que o risco vai compensar.
"Tem o perigo de levar tiro, mas não se pode comparar o morro do complexo tomado pelos bandidos e depois com a polícia pacificadora. Minha mãe não me deixava chegar muito perto da Grota, e agora vou poder ir na casa dos meus amigos que moram lá."
Ele conta que, com exceção dos bares, o comércio estava todo fechado no Morro do Adeus, onde mora. Wellington Oliveira disse que as pessoas evitavam sair de casa. Mesmo assim, ele foi ao mercado e cortou o cabelo. Para alguns lugares, se sentia seguro para ir; para outros, não.
"Tenho costume de comprar pão na Grota, mas desde segunda não vou lá. Curiosidade tem limite, né?"
Isto não impediu Oliveira de se reunir com familiares no terraço de seu prédio na noite de sábado para "ficar assistindo às balas traçantes" disparadas entre o Morro do Adeus e a Grota.
"Já estou acostumado a ouvir tiros, pessoas armadas passando por mim. Não tenho medo porque a gente sabe que bala não vai pegar aqui."
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