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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

"Bandidos têm mais recursos do que eu", diz autor da Globo

A violência no Rio de Janeiro já foi enredo de diversas novelas, mas as mais emblemáticas são "Mulheres Apaixonadas" (Globo, 2003), de Manoel Carlos, e "Vidas Opostas" (Record, 2007), de Marcílio Moraes.

Leia a cobertura completa sobre os ataques no Rio

A Folha pediu que os dois autores comentassem como a violência carioca (especialmente os ataques ocorridos nos últimos dois dias) afeta não apenas sua dramaturgia, mas também sua rotina. Leia as entrevistas:

Folha - Em 2006, estive em seu apartamento no Leblon e percebi que o local tem um forte esquema de segurança (fechadura eletrônica, porta em metal, circuito interno de TV). Você se sente muito ameaçado pela violência no Rio?

Manoel Carlos - Não há como não se sentir ameaçado, mas preciso di-zer que todos nós, no Rio, já vimos esse filme inúmeras vezes. É uma guerra permanente, com alguns momentos de trégua. Meu esquema de segurança visa proteger a minha família, mas não existem esquemas invulneráveis diante de uma violência que acontece em todos os lugares, imprevista e indiscriminadamente. É por isso que a minha mulher se pega também com a Santa Rita dos Impossíveis.

Você já mora no Rio há muito anos? Quando percebeu a necessidade de cuidar mais da segurança da sua casa?
Moro no Rio há quase 40 anos. Sempre cuidei da segurança da minha casa, em todas as cidades em que morei, não apenas aqui. E essa segurança vai aumentando e se sofisticando conforme a violência aumenta e se sofistica. Mas reconheço que os bandidos têm mais recursos do que eu.

Em que esses eventos recentes mudam a sua rotina?
O caso atual não atinge, preferencialmente, as pesso-as em suas casas, mas fora delas. Nas ruas, nos carros, no transporte coletivo. E nesse caso minha rotina não muda, não pode mudar. Não posso me entregar, nem aceitar que coloquem algemas nos meus pulsos e nos pulsos dos meus filhos. Eles estudam, trabalham, namoram, vão ao teatro, ao cinema, aos restaurantes. Enfim: meus filhos vivem, e eu não posso impedi-los de viver. Mas procuramos nos manter em estado de atenção permanente.

Você acredita que as UPPs são uma boa solução para conter o crime or-ganizado no Rio? Acha que o governo está no caminho certo?
Acho que o governo do Estado está trabalhando muito, assim como as forças policiais. Temos um secretário de segurança muito preparado e que toma decisões com coragem e serenidade. Acho mesmo que nesses quase 40 anos em que moro aqui, nunca tivemos uma política de segurança tão nítida e eficaz. E uma das provas dos seus acertos está refletida na violência que explode neste momento. Os bandidos estão incomodados e querem intimidar, espalhando o terror. Quanto às UPPs, até onde eu sei, são uma medida forte e ao mesmo tempo pacífica. Entendo que elas protegem os moradores das comunidades, mas não alcançam o obje-tivo final. Me parece que elas expulsam os bandidos dos morros, empurrando-os para o asfalto. Ou para as cidades vizinhas. Ou mesmo para outros Estados. Bandido tem que ser preso. E ela não prende. Gostaria que me explicassem como isso funciona na erradicação da violência.

Há quem defenda que, enquanto não houver a legalização das drogas, não será possível sufocar os rendimentos do crime organizado no Rio. Você acredita nessa tese? Ou acha que apenas a força policial será capaz de conter os criminosos?
As drogas são um grande problema, claro, mas elas e-xistem no mundo inteiro, em alguns lugares com mais presença do que no Rio, e ainda assim a violência é menor do que a nossa. Será que nesses lugares ela é contida com mais eficácia. Ou será que é uma questão de DNA?

Você acha que houve melhora na sensação de segurança no Rio nos últimos 4 anos? O que precisa melhorar?
A melhora é visível. Todos estão empenhados e temos, repito, uma política de segurança severa e competente, mas o que levou a cidade ao estado em que se encontra não foi tanto a omissão dos governos anteeriores, mas a prática de erros primários, como a de só atuar para resolver problemas imediatos e pontuais e se apresentar para agradecer os aplausos. Isso não dá. O trabalho de recuperação da paz na cidade exige de médio a longo prazo, ainda que se tenha que atacar também os focos, quando eles surjem, como no mo-mento atual. Eu estou confiante, mas reconheço que a situação está intolerável e as pessoas agem emocionalmente, como é do direito delas. Se alguém deixa em algum lugar público um embrulho ou uma caixa de sapatos, vazia, isso mobiliza imediatamente um contingente enorme de agentes de segurança. É o Terror. Assim mesmo, com T maiúsculo.

"DESVARIO"

Enquanto Manoel Carlos se equipa contra a violência e apoia a política de segurança do atual governo, Marcílio Moraes, que retratou o conflito morro x asfalto em "Vidas Opostas", sente-se menos inseguro que o colega e acredita que a política anti-drogas no país é um "desvario".

Folha - Você fez uma novela e uma minissérie sobre o crime organizado no Rio. Gostaria de saber se, durante sua pesquisa sobre o assunto, houve alguma mudança em sua sensação de insegurança na cidade.

Marcílio Moraes - Em termos de sensação de insegurança, nada mudou desde que comecei a me interessar pela violência urbana na cidade do Rio de Janeiro. Mas quero deixar claro que a minha abordagem é ficcional e não documental. Eu trabalho mais com a minha imaginação que com pesquisa, ainda que também a faça.

Quando entrevistei o Manoel Carlos em 2006, percebi que a casa dele tem um forte esquema de segurança. Como é a sua casa?
Moro numa rua sem saída, na Gávea. Temos uma guarita na entrada sob os cuidados de porteiros não armados. Na minha casa, em particular, não tenho nenhum esquema de segurança.

Você já mora no Rio há muito anos? Quando percebeu a necessidade de cuidar mais da segurança da sua casa?
Minha casa no Rio nunca sofreu um assalto, pelo menos nada digno desse nome. Uma vez entrou um rapaz, tentou roubar alguns objetos mas acabou fugindo sem levar nada... Tenho casa em Petrópolis também. Lá já houve alguns furtos de objetos. Nada de grande valor. Na verdade, não tenho objetos de grande valor.

Em que esses eventos recentes mudam a sua rotina?
Hoje em dia evito subir para Petrópolis à noite. No mais é apenas um certo desconforto.
 
Você acredita que as UPPs são uma boa solução para conter o crime organizado no Rio? Acha que o governo está no caminho certo?
Já disse que minha abordagem é ficcional. Não sou técnico no assunto. Mas sempre me pareceu que a solução para o problema da segurança no Rio de Janeiro tem que incluir, de início, uma profunda reforma na polícia. Sem ela acho difícil que se consigam resultados duradouros.

Há quem defenda que, enquanto não houver a legalização das drogas, não será possível sufocar os rendimentos do crime organizado no Rio. Você acredita nessa tese? Ou acha que apenas a força policial será capaz de conter os criminosos?
A meu ver a política de combate às drogas é um total desvario. Desencadear uma guerra para tentar impedir que algumas pessoas fumem maconha ou cheirem cocaína não faz o menor sentido. A começar pelo fato de que a guerra é perdida. As pessoas continuam se drogando da mesma forma. Eu nunca fui consumidor de drogas. Mas acho que é uma questão privada e não pública. Quem quiser se drogar que se drogue. Garanto que não vai se criar uma situação pior do que a atual.

Por ter feito um retrato contundente da questão do crime no morro em "Vidas Opostas" e "A Lei e o Crime" você acredita nesta tese da polícia carioca de que as várias facções estão se unindo em torno de um inimigo comum (o Estado)?
Acho a situação atual muito estranha. Será que são mesmo os traficantes que estão fazendo essa arruaça? O que eles podem ganhar com isso? Não sei. Pode ser a milícia querendo desmoralizar a polícia e assim adquirir mais força para se impor às comunidades. Acho que a imprensa deveria pesquisar mais a fundo a questão.



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